
A Caravana se dividiu em três rotas, denominadas: “Pipoca”, “Feijoada” e “Tutu de Fubá”. Os participantes passaram pelos seguintes locais: Cachoeirinha, Buieié, São José do Triunfo, Rua Nova e Rebenta Rabicho (Viçosa), Córrego do Meio e Chácara (Paula Cândido), Duas Barras (Porto Firme) e Guaraciaba. Por fim, na tarde de sexta-feira (28), o comboio se reuniu na sede da Aspuv - Universidade Federal de Viçosa (UFV) para compartilhar coletivamente as respectivas vivências.
De acordo com os organizadores, desde 2015 a Caravana Quilombola vem sendo sonhada, algo que se materializou com o Projeto Caravana Quilombola da UFV (Chamada CNPq/MCTIC Nº 016/2016), coordenado pela professora Marilda Maracci, que traz a alimentação como tema do “dedo de prosa”, onde debateu-se questões importantes como segurança e soberania alimentar dos povos negros, identidade e direitos quilombolas, e agroecologia - visando o fortalecimento das comunidades na Zona da Mata. “Algumas delas não são reconhecidas como Quilombolas ainda, mas já estão nesse processo. Sendo assim, o principal motivo dessa Caravana foi fortalecer a identidade Quilombola, buscando compreender também como os moradores dessas comunidades estão se alimentando, o acesso à água, sementes, alimentos de qualidade dentre outros assuntos”, afirmou Roberta Brangioni, bolsista do projeto.
“Na nossa percepção de moradores de Comunidades Quilombolas e também de militantes, que buscam as melhorias das políticas públicas em prol da diminuição e fim da desigualdade dentro das comunidades tradicionais, percebemos que precisamos incentivar a subsistência da terra, plantando, trazendo a nossa cultura e ancestralidade de volta, pois estamos perdendo isso com o tempo. Precisamos resistir e ter orgulho de que somos remanescentes de escravizados”, disse Julius Keniata, morador da comunidade do Buieié. Ele também reiterou que a Caravana Quilombola fortalece todas essas questões ao unir lideranças de diferentes lugares para um bem comum.
A diretora executiva do Fórum Mineiro de Entidades Negras (FOMENE) Maria José de Souza (Majú), pontuou: “A sociedade colocava pra mim que eu, enquanto mulher negra e pobre, não tinha acesso à universidade, que era lugar de rico, de brancos… Nós temos que ser protagonistas da nossa própria história, devemos correr atrás dos nossos direitos, das políticas sociais, porque ninguém vai fazer isso pela gente”. Majú, que também ajudou a construir a Caravana, relatou que trabalhar a soberania alimentar vai além das comunidades quilombolas/rurais/negras, pois todos devem se preocupar com o que estão comendo.
A Caravana, que foi construída a partir da organização do movimento Quilombola da região, através da Rede Sapoqui (Rede de Saberes dos Povos Quilombolas) e com o apoio do CTA e de diversas outras organizações, realizará atividades também na 130ª Festa de Nossa Senhora do Rosário, que acontece na Comunidade de Airões (Paula Cândido) nos dias 20 e 21 deste mês. Dentro do evento, haverá debates sobre soberania alimentar, Feira Agroecológica, Feira de Sementes e o uso de alimentos agroecológicos que foram mapeados na própria Caravana. Roberta informa que as próximas Caravanas estão previstas para acontecer juntamente com as festas marcantes do calendário negro da Zona da Mata, a exemplo da Fogueira de São Pedro, que ocorre em Espera Feliz-MG no dia 28 de junho e a Festa do Feijão de Ogum, em Juiz de Fora.