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A barraca solidária de Dona Denira

Desde maio de 2019, a agricultora, com o apoio de sua família, vem desenvolvendo esta iniciativa solidária. A proposta é que os produtos (frutas, legumes, verduras, pó de café, etc.) fiquem expostos na sua barraca sem ninguém pra tomar conta e então quem precisar pode pegar o alimento e deixar o valor que achar justo ou que puder pagar naquele momento.

Esse foi um jeito que Dona Denira encontrou de partilhar o que produz e mostrar para as outras pessoas que é possível ser solidário e que existem sim pessoas honestas. “Nem tudo está perdido”, ela afirma. “Tem muitas pessoas honestas, que panha a mercadoria, valoriza, dá aquilo que tem... Depois tem também um trabalho de educação. Educar as pessoas pra mostrar que pode ser honesto nas pequenas coisas, então o maior trabalho é esse, o trabalho de educar. Educar quem? As pessoas do próprio lugar. Crianças, jovens, adolescentes, mostrar pra eles que ao passar e ver aquilo ali tem que saber respeitar, que não é pra destruir, porque vai alimentar eles mesmos e outras pessoas que estão passando ali por perto. E a outra coisa é a alegria das pessoas. Eu coloco por prazer e gosto disso, de saber a alegria das pessoas por poder panhar e se alimentar, coisa que às vezes eles tão procurando há muito tempo e não encontram, chegando ali eles encontram, ficam alegres, então isso aí pra mim é a coisa melhor de todas”, conta.

Outro ponto importante que Dona Denira destaca é a troca de experiências. Já que tem vezes que as pessoas aparecem quando ela está repondo os produtos, e sempre tem alguém para perguntar sobre algum alimento que não conhece ou novas formas de utilizar o que já é conhecido há tempos. A mandioca é um exemplo. “As pessoas conhecem a mandioca somente na sopa, ou cozida ou frita, e aí a gente mostra que com a mandioca pode fazer muitas outras coisas, inclusive usar a casca dela, fazer bolinho, então essa troca de experiência é muito bom”, afirma satisfeita.

Na agroecologia a gente aprende o quanto é importante trocar saberes e quanto mais a gente ensina, mais a gente aprende. Dona Denira já tem algumas décadas de sabedoria, mas a ideia da barraca solidária veio de uma história que compartilharam com ela. É o que nos conta a sua filha Gilvânia: “A minha mãe desde que mudou pro terreno, em 2011, sempre teve vontade de colocar a barraquinha na beira do asfalto pra vender os alimentos que produz, mas o que fez ela botar a ideia na prática no ano passado, foi porque ouviu falar da experiencia do Pegue Pague: botar os produtos lá, sem ninguém pra atender o pessoal, mas cada um pegava o que precisava e deixava o dinheiro no local. Aí através disso ela começou de forma bem simples mesmo. Não era nem barraca no começo, era um caixote que ela colocava os produtos em cima com a plaquinha do Pegue Pague – ‘Pegue o que precisa, pague o que achar justo ou o que puder’”

Desde que a iniciativa solidária teve início, há um ano e meio, Dona Denira já expôs os produtos em caixote, no carrinho de mão, e esse ano ela montou a barraca. Ali do lado tem uma latinha, presa com cadeado, para as pessoas colocarem o dinheiro. A agricultora vai até lá 2 ou 3 vezes por dia, para repor os alimentos e retirar as contribuições. Com o tempo ela aprendeu que deve colocar um pouco de alimento por vez, mas a variedade é sempre grande, tem taioba, couve, laranja, banana, mamão, cebolinha, salsinha, abacate... no geral são produtos sazonais e uma pesquisa com Dona Denira já mostrou que na sua propriedade tem mais de 100 espécies diferentes no pomar e na horta.

Sobre os rendimentos da barraca solidária, ela tem lucrado uma média de 50 reais por semana. “A mãe sabe mais ou menos o que o pessoal pega e quanto paga pelos alimentos que estão ali. Tem gente que passa, pega e não deixa dinheiro nenhum, tem outros que pagam a mais. Principalmente o pessoal de fora do município, quando passa e pega o produto, deixam um valor bem a mais, então uns acabam compensando pelos outros”, afirma Gilvânia. Esse é um dinheiro que ajuda, já que Dona Denira não conseguia vender na feira, por não ter carro para levar seus produtos e também porque já tem outros compromissos com a igreja mas, como ela e sua família afirmam, o lucro não é a parte mais importante dessa experiência.

Para Dona Denira, a barraca solidária é mais “um ponto catequético”, um lugar em que ela pode mostrar que é possível produzir e colher sem usar agrotóxicos e ter uma vida melhor com alimentos saudáveis. “Assim a gente pode estar oferecendo alimentos mais sadios pras pessoas e sem querer muita coisa em troca. A gente pode ver muito isso: A pessoa passa na estrada, às vezes nem tem dinheiro pra colocar lá naquela hora, pega a mercadoria e depois no outro dia o dinheiro aparece. Tem aquelas pessoas que colocam pouco, mas na vida o que tem é só aquilo, precisa mais da mercadoria do que a quantidade de dinheiro que tem. Então a gente vê que aquilo é gratificante. Tem aquelas pessoas também que passam, porque às vezes a gente está trabalhando na beira da estrada e vê, e panha pouca coisa e às vezes coloca quantidade que está acima daquela mercadoria que eles panharam. Então é isso que vai trazendo pra gente cada vez mais essa alegria, esse jeito da gente partilhar, da gente se doar, e mostrar que a gente pode fazer também coisas diferentes. O que mais deixa a gente contente e alegre é o agradecimento das pessoas, mostrar pra gente que eles estão contentes com aquilo, talvez não é pessoas do lugar, mas as pessoas de longe, os de longe eles valorizam mais quando eles passam por aqui e a gente vai nessa persistência de mostrar pro outro que a boa vontade sempre vai vencer as grandes maldades do povo”.

São pessoas como Dona Denira, com suas iniciativas e sabedorias, que nos fazem seguir acreditando que um outro mundo é possível e seguir lutando pela sociedade que queremos. Nossa eterna gratidão a nossa companheira por compartilhar a sua história e a toda a sua família por seguirem na luta com o movimento agroecológico e com o CTA.

 

Artigo escrito por Wanessa Marinho (Comunicação CTA-ZM)

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