
Reconhecer o direito que as mulheres têm de manifestar a sua sexualidade, como um direito de liberdade fundamental é uma das grandes lutas da Marcha das Margaridas. Ao longo da história, o machismo e o patriarcado tem exercido um papel de controle sobre a forma como homens e mulheres vivenciam a sua sexualidade. Se aos homens é permitido a busca do prazer, às mulheres cabem apenas o papel da procriação. Diferenciações como essa reforçam relações de dominação e subordinação, além da violência contra as mulheres, principalmente, negras e indígenas.
As mulheres do campo, da floresta e das águas defendem o reconhecimento da autonomia da mulher de decidir sobre os rumos da sua própria vida e corpo. E este foi o tema da Oficina Corpo e Sexualidade, realizada no dia 13, no Pavilhão do Parque da Cidade. O espaço foi facilitado por Sônia Coelho (Marcha Mundial das Mulheres), Sílvia Camurça (Articulação de Mulheres Brasileira) e Maria Gabriela Evangelista (Secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais Agricultoras Familiares – FETARN).
Um dos objetivos da oficina foi debater as proposições do ‘Eixo 8 – Pela autonomia e liberdade das mulheres sobre o seu corpo e a sua sexualidade”, que se encontra na Plataforma Política da Marcha das Margaridas 2019 e aborda questões como saúde reprodutiva, padrões morais e legais que subjugam as mulheres, controle sobre os seus corpos e direito a sexualidade.
Quem esperava por uma “palestra” sobre saúde reprodutiva e sexualidade encontrou um espaço de ampla participação. As margaridas foram convidadas a falar sobre os temas e compartilhar as suas histórias. “Elas participaram muito e falaram todas. Falaram as trabalhadoras rurais, as pescadoras, falaram as jovens, as de mais idade, isso foi muito importante, não teve aquele silêncio. E o que mais tocou a gente é ver a dificuldade que as mulheres estão tendo na sociedade de expressar a sua sexualidade, de falar da questão do aborto, o que está muito ligado a esse momento que nós estamos vivendo de repressão e conservadorismo. Mas, por outro lado, elas chegaram com muita vontade de falar, mesmo que não soubessem como”, avaliou Soninha (MMM), uma das facilitadoras do debate.
Jocélia, uma trabalhadora rural do Rio Grande do Norte, acredita que Corpo e Sexualidade é uma temática extremamente importante para se debater com as mulheres e jovens. “Nós não somos objetos sexuais de homem nenhum, nós temos os nossos desejos e temos o direito de dizer não como também de dizer sim, mas só quando a gente quiser e não quando o outro quiser”.
Uma jovem da Marcha Mundial das Mulheres desabafou: “Nós LGBTs não somos doentes, não somos aberrações, e nós queremos reivindicar os nossos direitos e o nosso espaço assim como cada um e cada uma de vocês”. Pollyana Carolina, do Fórum de Mulheres do Rio Grande do Norte, também fez questão de falar. “Eu não pedi pra ser transexual, eu não pedi pra ser humilhada e xingada na rua. Eu também não pedi pra ser negra e nordestina, mas eu sou. E o maior orgulho que eu tenho hoje é da mulher que eu estou me tornando”, afirmou.
Homônima de Margarida Alves, uma trabalhadora do Tocantins também destacou a importância do debate, e contando um pouco sobre a sua atuação com famílias em situação de risco, destacou o orgulho que sentia de estar ali ouvindo todos aqueles depoimentos. As facilitadoras encerraram o debate reforçando o quanto é fundamental que essas mulheres voltem para as suas cidades e comunidades levando essa luta, fazendo e participando de formações e utilizando o material da Plataforma Política. “Que elas aproveitem o material e que dêem continuidade a esse e outros debates, que não estão separados. Quando a gente faz a luta feminista, a gente quer fazer por inteiro. Então a gente fala do corpo, da nossa sexualidade, da terra, do território, da agroecologia, do que a gente planta, da economia que nós queremos. Nós estamos falando da vida das mulheres”, concluiu Soninha.